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Governo de Dom Pedro II (1840-1870): Da Maioridade à Guerra do Paraguai
O governo de Dom Pedro II, o segundo e último monarca do Brasil, foi marcado por um período de profundas transformações políticas, econômicas e sociais. Entre os anos de 1840 e 1870, o Brasil passou por eventos significativos que moldaram sua história, desde a antecipação da maioridade do imperador até o término da Guerra do Paraguai.
1. O Golpe da Maioridade (1840)
A ascensão de Dom Pedro II ao trono ocorreu em circunstâncias especiais. Após a abdicação de seu pai, Dom Pedro I, em 1831, o Brasil passou por um período de regência (1831-1840), durante o qual o país enfrentou instabilidade política, rebeliões regionais (como a Revolta dos Farrapos no sul e a Sabinada na Bahia) e uma crise de liderança.
Para estabilizar o país e consolidar a monarquia, os conservadores articularam o Golpe da Maioridade em 23 de julho de 1840, declarando que Dom Pedro II, então com apenas 14 anos, já havia atingido a maioridade legal para governar. Esse golpe, embora ilegal, foi amplamente aceito pela elite política e pela população, garantindo a continuidade do regime monárquico.
Com sua ascensão ao poder, Dom Pedro II iniciou um longo reinado caracterizado pelo pragmatismo, pelo incentivo ao progresso científico e cultural e pela busca por estabilidade política.
2. Consolidação da Monarquia e Modernização do Brasil
Nos anos seguintes ao Golpe da Maioridade, o jovem imperador trabalhou para consolidar a autoridade central e promover o desenvolvimento do país. Algumas das principais características desse período incluem:
- Conciliação Política: Dom Pedro II adotou uma postura conciliatória entre os partidos Conservador e Liberal, alternando-os no poder para evitar conflitos mais graves. Essa estratégia ajudou a manter a estabilidade política, mas também dificultou reformas estruturais.
- Economia Agroexportadora: A economia brasileira continuou dependente da agricultura de exportação, especialmente do café, que se tornou o principal produto agrícola do país. A expansão cafeeira impulsionou o crescimento econômico, mas também intensificou a dependência do trabalho escravo.
- Progresso Científico e Cultural: Dom Pedro II era um entusiasta da ciência, da educação e das artes. Durante seu reinado, foram criadas instituições importantes, como o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838) e o primeiro cabo submarino telegráfico (1874). Além disso, o imperador incentivou expedições científicas, como as de Louis Agassiz e Richard Francis Burton, e apoiou a construção de ferrovias para modernizar o transporte.
- Abolição do Tráfico de Escravos (1850): Sob pressão internacional, especialmente da Grã-Bretanha, o Brasil promulgou a Lei Eusébio de Queirós em 1850, que proibiu definitivamente o tráfico transatlântico de escravos. Embora a escravidão continuasse a existir, essa medida marcou o início do declínio do sistema escravista.
3. Rebeliões e Conflitos Internos
Apesar da relativa estabilidade proporcionada pela figura do imperador, o Brasil ainda enfrentou diversos conflitos internos durante esse período. Alguns dos mais notáveis incluem:
- Revolta dos Praieiros (1848-1849): Movimento liberal que eclodiu em Pernambuco, protestando contra o centralismo político e exigindo maior autonomia provincial.
- Guerra dos Farrapos (1835-1845): Embora tenha começado antes do reinado de Dom Pedro II, o conflito separatista no Rio Grande do Sul só foi encerrado em 1845, com um acordo negociado pelo Barão de Caxias, que garantia anistia aos rebeldes e certas concessões políticas.
- Questão Christie (1862-1863): Um incidente diplomático com a Grã-Bretanha, envolvendo disputas comerciais e ataques a navios brasileiros. A crise foi resolvida com a mediação do imperador, que evitou um confronto militar.
4. Expansão Territorial e Guerras Externas
Dom Pedro II também esteve à frente de importantes disputas territoriais que ampliaram as fronteiras do Brasil:
- Guerra do Uruguai (1864-1865) : O Brasil interveio nos assuntos internos do Uruguai para derrubar o governo de Atanasio Aguirre, aliado do ditador argentino Juan Manuel de Rosas. Essa intervenção resultou na vitória brasileira e na instalação de um governo favorável ao Brasil.
- Guerra do Paraguai (1864-1870) : Também conhecida como Guerra da Tríplice Aliança, foi o maior conflito armado da América do Sul. Iniciada após agressões paraguaias ao Brasil e à Argentina, a guerra envolveu uma aliança entre Brasil, Argentina e Uruguai contra o Paraguai, liderado pelo ditador Francisco Solano López.
A guerra foi devastadora, causando enorme perda de vidas humanas e recursos. O Brasil mobilizou cerca de 130 mil homens, muitos deles escravos alforriados em troca do serviço militar. Apesar dos custos humanos e financeiros, a Tríplice Aliança saiu vitoriosa, e o Paraguai foi reduzido a uma situação de extrema miséria.
5. Consequências e Legado do Período
Entre 1840 e 1870, o Brasil avançou em vários aspectos, mas também acumulou tensões que eventualmente levariam ao declínio do Império. Alguns pontos importantes incluem:
- Modernização e Progresso: O Brasil experimentou avanços significativos em infraestrutura, educação e cultura, consolidando-se como uma nação emergente na América Latina.
- Crescente Pressão Abolicionista: Embora a Lei Eusébio de Queirós tivesse encerrado o tráfico de escravos, a escravidão continuava sendo um problema social e econômico. Movimentos abolicionistas ganharam força, exigindo mudanças no sistema.
- Desgaste da Monarquia: A Guerra do Paraguai, apesar da vitória, deixou o Brasil endividado e exaurido. Além disso, o exército, que desempenhou papel crucial no conflito, começou a ganhar influência política, plantando as sementes para futuras crises institucionais.
Conclusão
O período de 1840 a 1870 foi marcado por avanços significativos sob o governo de Dom Pedro II, mas também por desafios que colocaram à prova a capacidade do Brasil de se modernizar enquanto mantinha suas estruturas tradicionais. O imperador conseguiu navegar pelas complexidades políticas e sociais de seu tempo, mas as contradições do regime monárquico – especialmente a questão da escravidão – começaram a se manifestar de maneira mais clara, pavimentando o caminho para a República.
Em síntese, esses 30 anos representam um momento de consolidação da monarquia brasileira, mas também o início de seu declínio, à medida que novas forças sociais e políticas surgiam no cenário nacional.
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